quinta-feira, 16 de julho de 2009

Singularidades do Gato Doméstico

Anatomia e sentidos
O gato é um sofisticado caçador, mas também uma apetecível presa. Este duplo papel que desempenha em estado selvagem permitiu-lhe devolver os sentidos tanto para a caça, como para a fuga. Apesar de uma convivência próxima com o Homem durante milénios, o gato doméstico não perdeu qualidades em relação ao seu parente selvagem. Pelo contrário, as diferenças entre os dois são tão poucas ao ponto de ser quase impossível diferenciá-los apenas com base nos genes.
O corpo e o movimento do gato doméstico são uma poderosa combinação entre beleza e funcionalidade que fazem com que este seja capaz de trepar verticalmente, ver na escuridão, ouvir aquilo que nem os cães conseguem, cair em pé, correr e atingir velocidades máximas espantosas, encontrar o caminho para casa, etc.
Ossos do Ofício
O Esqueleto do gato é uma verdadeira máquina de ossos afinada ao mais ínfimo pormenor. Os gatos têm entre 230 a 290 ossos, dependendo do comprimento da cauda e do número de dedos. 10% dos ossos dos gatos encontra-se na cauda, cuja oscilação desempenha um papel fundamental no equilíbrio do corpo. O humano, apesar do seu maior tamanho, tem apenas 206 ossos. Isto faz com que o gato seja extremamente flexível, ao ponto de conseguir rodar o seu corpo no ar enquanto cai, permitindo-lhe quase sempre cair em pé. Na verdade, o gato roda metade do corpo de cada vez, começando pela cabeça. Quando está a meio do movimento, a parte da frente do corpo do gato está toda virada para baixo, enquanto que a parte traseira está completamente virada para cima.
Os gatos têm também a clavícula muito reduzida, que parece “flutuar” entre os ombros. Na realidade, as patas dianteiras estão ligadas ao resto do corpo através de músculos. Isto não só permite ao gato passar por qualquer buraco onde caiba a sua cabeça, mas também alargar a passada durante a corrida. O gato doméstico consegue atingir uns vertiginosos 50 km/h por breves momentos.
Uma das partes anatómicas mais fascinantes do gato são as patas. O contraste entre as suaves almofadas que amortecem quedas e as afiadas garras retracteis dão-nos uma ideia da complexidade e adaptação ao meio atingida por este animal. As garras retracteis são uma característica de quase todos os felinos. A contracção do tendão situado na parte inferior do dedo faz com que as garras sejam expostas, enquanto que o relaxamento do mesmo, faz com que as poderosas unhas permaneçam escondidas.
Com a ajuda de músculos tonificados, os gatos conseguem trepar na vertical, por exemplo, troncos de árvores, postes de madeira, etc.
Sentir o mundo
Um dos primeiros sentidos que os gatos desenvolvem é o tacto. Os pêlos tácteis situam-se no bigode, por cima dos olhos, no queixo, nas bochechas e na parte traseira de cada pata. Estes pêlos dão ao gato informação sobre tudo em que tocam e ainda dados sobre a pressão e movimento do ar.
Estes pêlos, sobretudo os que se situam no focinho, são poderosos instrumentos na recolha da dados enquanto o gato explora e, sobretudo, enquanto caça. De facto, os gatos vêem mal ao perto, o que compensam com estes refinados bigodes. Quando a presa está demasiado perto são os bigodes e não a visão que guia o gato.
Cheirar bem
Apesar de os cães permanecerem os reis do olfacto, os gatos merecem um digníssimo segundo lugar, tendo um olfacto muito mais desenvolvido do que qualquer Ser Humano. Os gatos têm o dobro dos receptores olfactivos no interior do nariz, para além de um órgão extra que o homem não possui. Tal como nos cães, o órgão de Jacobson ou vomeronasal situa-se entre o nariz e a boca e o seu papel é descodificar aromas e pensa-se inclusivamente que analisa feromonas.
O olfacto é assim um dos sentidos mais importantes na vida de um gato: permite identificar outros gatos, presas, predadores, retirar informações da urina e fezes que marcam o território, etc. Mais do que uma comida saborosa, os gatos apreciam uma comida que cheire bem. Por isso é preciso especial cuidado com os líquidos desinfectantes. Estes produtos muitas vezes são tóxicos para os felinos, mas atraem-nos através do cheiro.
Sem gosto
Há um sentido que é mais desenvolvido nos humanos do que nos gatos ou mesmo nos cães: o paladar. Os humanos têm cerca de 9000 pupilas gustativas, enquanto os gatos têm menos de 500, ficando mesmo atrás dos cães que em média têm 1700.
Erradamente, atribui-se ao gato um paladar desenvolvido, capaz de apreciar doces e rejeitar a suposta tediosa ração. Na verdade, os gatos não conseguem identificar o sabor doce e frequentemente seleccionam a comida através do cheiro que esta emite.
A rejeição da comida, quando não se deve a problemas de saúde, está mais vezes relacionada com a temperatura a que é servida do que com o paladar. Os gatos gostam da comida à temperatura da língua, 38º C , que seria a temperatura de um pequeno animal acabado de caçar.
Imbatíveis
A audição é um sentido no qual os gatos podem reclamar ser mestres. Pouca escapa às orelhas levantadas que rodam até 180 graus para melhor captar os sons.
A audição dos humanos capta os sons entres 20 Hertz e 20 Kilohertz, a dos cães situa-se entre 20 Hertz e 40 Kilohertz e a dos gatos entre 30 Hertz e 65 Kilohertz. Apesar de não serem tão bons com os sons mais graves, a verdade é que dominam os agudos. Esta particularidade torna-se importante na localização de presas, detectando os guinchos agudos que fazem ao comunicar. O grau de rotação das orelhas permite ao gato distinguir a localização de duas presas separadas por 10 cm a 2 metros de distância. Contudo, não nos podemos esquecer que o gato também é presa e a audição representa uma forma eficaz de identificar o perigo.
O desenho das orelhas do gato permite aumentar a intensidade do som, por isso, os gatos ouvem “mais alto” do que os humanos. Esta é uma das razões por que o gato não deve ser exposto a barulhos intensos e agudos, tais como sirenes.
No ouvido interno, encontramos o aparelho vestibular responsável pela manutenção do equilíbrio. Nos gatos, este sistema assume particular importância, uma vez que os felinos aventuram-se frequentemente para sítios altos. Extremamente sensível a qualquer mudança, são estes órgãos que dão a indicação ao gato para se virar enquanto cai, para que consiga aterrar com as patas no chão.
Sem medo do escuro
Apesar de até à pouco tempo se pensar que os gatos não viam cores, testes recentes têm mostrado que os gatos são sensíveis ao azul e verde, mas pensa-se que não o são ao vermelho.
No mundo do caçador-presa, o mais importante parece ser o campo de visão e a capacidade de ver no escuro. Os gatos têm um campo de visão de 185 a 200 graus, contra os 180 graus que os humanos conseguem cobrir. Apesar de o campo de visão ser muito abrangente, os gatos não conseguem ver bem ao perto, ao ponto de se dizer que se soubessem ler, teriam de usar óculos.
Com ou sem óculos, os gatos parecem ultrapassar-nos sobretudo na capacidade de captação de luz. Tanto gatos como cães conseguem ver melhor do que os humanos no escuro, sendo que os felinos precisam apenas de 1/6 da luz que os humanos necessitam para distinguir formas. Isto deve-se a uma membrana que se encontra no olho que reflecte a luz para a retina. É o reflexo desta membrana que faz com os olhos dos gatos “se iluminem” à noite. A pupila dos gatos dilata-se também até cerca de 90% da área do olho, para permitir uma maior captação de luz. Nos dias mais ensolarados, a pupila fecha-se quase na totalidade para não permitir que o sol “queime” os olhos.
Sexto sentido
Muito se fala no sexto sentido dos animais e naquilo que ele permite. Muitas vezes este sexto sentido não passa de sentidos que os humanos também têm, mas mais apurados. Contudo, existe ainda um “sentido” que intriga os cientistas: o sentido de orientação.
Os gatos parecem ter uma capacidade extraordinária para se orientarem, apesar de viverem a maior parte da vida dentro de uma casa. De facto, são inúmeros os relatos de gatos que percorreram vários quilómetros para regressar a casa. Num estudo feito em Ohio verificou-se que 66% dos gatos perdidos regressaram a casa por sua própria iniciativa, o que aconteceu em apenas 10% dos cães. Apesar de já se terem conduzido alguns estudos para se tentar perceber o que guia os gatos, a verdade é que ainda persistem muitas dúvidas. Uma das teorias mais populares é a de que os gatos são sensíveis ao campo electromagnético da terra, orientando-se então muito ao estilo de uma bússola.
É devido a esta super adaptação ao meio através de um esqueleto flexível, músculos fortes e sentidos apurados que o gato foi ao longo dos séculos admirado e também temido, considerado Deus e também diabo. Embora hoje, as superstições já estejam na grande maioria desfeitas, a verdade é que o gato não perdeu a mística.

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